sexta-feira, julho 01, 2005

Na escuridão, perguntei se ele sabia o quanto o amava.
(Frase de Bertolucci escrita para Marlon Brando)

A discussão era interminável e recorrente. Sabia que sempre que algo não andava bem ela seria o alvo das brigas e sofreria com os gritos e palavras ofensivas que os dois bradavam dentro de quatro paredes. Chorava compulsivamente, berrava. Colocou-se em frente à porta para que ele não pudesse sair. Todos na casa choravam, ela sabia. Mas não podia conter-se. A situação já era irremediável.

Pensava em se matar, em quebrar todos os vidros da casa, chamar os vizinhos que espiavam pelas frestas de suas janelas para gritar que aquilo não importava a ninguém e que todos fossem à merda. Tinha ódio das pessoas, tinha ódio das relações que conseguia estabelecer com as pessoas. Amava muito, talvez não soubesse expressar que amava, talvez nem amasse de verdade, talvez não amasse nem a si mesma.

Agora estavam deitados e ela pensava em tudo que haviam dito. O quarto era amplo, uma pequena corrente de ar lhe arrepiava em intervalos pequenos, uma luz escassa lhe permitia ver suas sombras na parede também escura. Sentia um aperto no peito, daqueles que lhe angustiavam quando tinha vontade de chorar. Agora não era mais raiva, mas um sentimento de culpa – pelos dois – de não saber parar quando chegara a hora, de dizer tudo que vinha à boca sem antes pensar em não magoar, de esconder o que sentia verdadeiramente.

Ele dormia, ela sentia sua respiração perto ao peito. Queria acordá-lo, mas seu sono parecia perene, tranqüilo, diferente da pessoa com quem acabara de discutir. Lembrou da vez em que ela dormia e ele lhe deu flores; colocou o presente ao seu lado na cama e lhe acordou com um beijo. Ela se assustara, mas não recebia provas de carinho costumeiramente. Amava-o.
Sua respiração a excitava, olhou mais uma vez para ele, tinha certeza de que estava dormindo. Acordou-o. As luzes que lhe permitiam ver suas sombras na parede tinham se enfraquecido. Na escuridão, perguntou se ele sabia o quanto o amava.

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