quarta-feira, julho 20, 2005

De excentricidades...

http://br.news.yahoo.com/050720/5/vux3.html

O bule gigante entrara em ebulição. Nunca pensara que a cena fosse possível, nem que alguém fosse capaz de tamanha covardia e maldade. Pedro se convertera à religião do bule gigante há cinco anos, quando seu melhor amigo foi curado de fortes dores no peito pela ação terapêutica do templo, em forma de bule.

Na Malásia eram conhecidas as formas orientais de tratamento de doenças melhor do que em qualquer lugar. Todos os conhecimentos do mundo oriental na arte de tratar o corpo e a mente de formas naturais haviam se convergido para aquela região do mundo. Isso era o que sempre ouvia dizer, mas o que via na prática eram grandes amigos seus morrendo sem atendimento ou sem um medicamento que fosse capaz de lhes tirar as dores da vida.

A primeira vez que presenciou alguma transformação verdadeira foi quando seu melhor amigo se viu curado, definitivamente curado, daquela dor aguda no peito, crônica pelos anos de existência e de sofrimento proporcionado. E tudo graças à ação benéfica do bule gigante.

A cátedra fora criada alguns anos antes, no centro da Malásia, cerca de sua casa, em meio às frondosas árvores e à vista de altas montanhas que rodeavam o lugar. Pedro sempre achara o local muito diferente, colorido, lhe encantava. O bule era pintado à mão, como um artesanato daqueles usados pelas donas de casa mais tradicionais para preparar o chá da tarde do marido que assiste à televisão no domingo à tarde. Era principalmente de cores quentes, com recortes geométricos em vermelho e amarelo, tendo como coloração principal um marrom bem clarinho.

Apesar da curiosidade, nunca havia entrado na cátedra, nem contara a ninguém sobre sua admiração pelo prédio escultural. Mas seu melhor amigo percebia o que lhe passava na mente. E era o primeiro a desconfiar. Nunca levaria a sério uma religião que tinha como templo e adorava um bule gigante com poderes curadores.

Apostaram. Nada aliviava as dores no peito de Thiago. Se o bule funcionasse, se converteriam àquela doutrina. A aposta iria completar cinco anos.

Os dois estavam juntos apreciando com ardência as chamas que consumiam o bule. As cores quentes e o calor do incêndio lhes enchiam o coração de mágoa, de ódio, de vingança. Ouviam burburinhos e risadas à volta. Poucos se importavam com a destruição de tão importante patrimônio da humanidade. Sim, porque qualquer pessoa, daquelas que riam às gargalhadas poderia se beneficiar dos efeitos curadores do bule. Pobres coitados, pensava Pedro.

Os bombeiros demoraram a chegar. As chamas já consumiam a semi floresta que rodeava a cátedra. Da casa de Pedro se sentia o calor e a fumaça elevada pelos ventos. No ar, só se sentia o cheiro de destruição. Tudo estava preto.

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