sexta-feira, junho 27, 2008

Use com prudência

A utilização de celulares por crianças tem aumentado a preocupação de especialistas sobre a relação – ainda incerta – entre uso do aparelho e surgimento de doenças como o câncer. Limitar o uso é a principal dica para evitar riscos

A oferta de produtos de telefonia móvel aumenta a cada dia e as empresas têm investido pesadamente para ampliar sua inserção entre as crianças. Segundo uma pesquisa do Ibope Net/Ratings divulgada no segundo semestre do ano passado e que ouviu sete mil crianças de doze países, os brasileirinhos são os que mais usam o celular: 81% utilizam o aparelho três ou mais vezes por semana, 50% a mais do que as crianças japonesas.

O celular pode proporcionar sensação de segurança aos pais, que podem encontrar seus filhos onde estejam, mas é preciso ficar atento à relação de custo e benefício. “Você oferece um risco adicional à criança dando um celular a ela [com relação à probabilidade de desenvolver algum tipo de câncer]”, afirma Silvana Turci, responsável pela área de Vigilância do Câncer Ocupacional e Ambiental do Instituto Nacional de Câncer (Inca). “Criança não tem que ter celular”.

Isso porque a espessura do crânio nas crianças é cerca de quatro vezes menor do que nos adultos, permitindo maior penetração das ondas eletromagnéticas emitidas pelo aparelho. E, ainda, porque suas células se reproduzem mais rapidamente, deixando-as mais suscetíveis a qualquer risco.

Em países como a Inglaterra, os governos recomendam que as crianças e os adolescentes sejam desestimulados a falar em celulares, limitando-se ao essencial. Na França, por exemplo, há alguns anos foi imposta uma lei que proibiu o uso de celulares nas escolas, para preservar os pequenos das ondas eletromagnéticas. Na ocasião, os parlamentares franceses chegaram a levar a questão à Organização Mundial da Saúde (OMS), discutindo sobre a necessidade de fazer pesquisas específicas sobre o assunto. Até hoje, no entanto, nada muito relevante foi publicado.

Riscos para adultos

Em contrapartida, pesquisas sobre os riscos da radiação eletromagnética para o organismo de adultos são divulgadas aos montes. E os resultados são os mais diferentes que possamos imaginar.

Um estudo israelense publicado no American Journal of Epidemiology em dezembro passado afirmou que as emissões de radiofreqüência e de microondas dos celulares aumentam o risco de câncer nas glândulas salivares. O risco de desenvolver um tumor maligno nessas glândulas é 50% maior quando o aparelho é usado durante 22 horas por mês. E é ainda maior se a mesma orelha for sempre utilizada. A pesquisa foi realizada entre 2001 e 2003, e avaliou o número de anos em que as pessoas usaram o celular.

Já um estudo japonês divulgado há dois meses chegou à conclusão de que o uso de celular não aumenta as chances de desenvolver câncer cerebral. Nesse caso, os cientistas analisaram 1 mil pessoas (com diversos tipos de tumores e também saudáveis) durante seis meses.

Outro estudo, esse sueco, de 2006, constatou exatamente o oposto. Os pesquisadores estudaram o uso de celulares por 4,4 mil pessoas (metade pacientes com câncer e metade pessoas saudáveis) e concluiu que usuários intensos de celular têm risco 240% maior de desenvolverem tumor maligno do lado da cabeça em que usam o aparelho. Eles definiram como uso “intenso” do celular um tempo superior a duas mil horas – o que equivale a uma hora de uso por dia no local de trabalho, durante 10 anos.

Para saber em qual pesquisa se basear, o consumidor encontrará dificuldade. Este não parece ser um assunto em que existe algum consenso entre pesquisadores e especialistas. De acordo com Renato Sabbatini, coordenador do Comitê Latino-americano de Campos Eletromagnéticos de Alta Freqüência e Saúde Humana, “devido à variabilidade biológica e às falhas dos estudos, pode-se esperar que até 5% dos trabalhos mostrem resultados negativos para a saúde, sem que isso signifique que os efeitos realmente existem”. Para ele, “não há motivos para preocupação”.

Silvana, do Inca, também explica as diferenças dos estudos pela forma como são elaborados, mas não acha que prevenir seja exagero: “é difícil analisar uma comunidade que utilize o mesmo aparelho, fale pelo mesmo tempo etc. Mas, como outros compostos que podem ser cancerígenos, demora alguns anos para que se tenha essa certeza [de que são ou não cancerígenos]. Até lá vale a prevenção.”

A especialista faz um paralelo com o câncer de pele. Voltar da praia com o corpo vermelho e cheio de bolhas não significa que a pessoa terá câncer de pele. Mas se essa situação se repetir todos os finais de semana, as chances de desenvolver a doença aumentam. O mesmo pode-se pensar com relação ao uso de celulares: com o tempo e a freqüência de uso, os riscos se multiplicam.

De acordo com Álvaro Augusto Almeida de Salles, professor da área de engenharia elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), “como a maior parte do dinheiro das pesquisas vem da indústria de telecomunicações, muitas têm resultados distorcidos, cobrindo apenas dois ou três anos de análise. Para podermos relacionar o uso de celular ao câncer cerebral, por exemplo, é necessário estudar a população por pelo menos oito ou dez anos.” Segundo o pesquisador, todos os estudos que cobrem esse período chegam a resultados preocupantes.

Como funciona o celular

Quando você faz ou recebe uma ligação pelo celular, um sinal é emitido pelo aparelho e captado pela antena de telefonia móvel (estação rádio-base) mais próxima. Haverá uma troca de sinais entre antenas e é isso que garante a conversação sem perda de sinal.

Para você conseguir conversar, as antenas do aparelho e da estação rádio-base emitem radiação eletromagnética de baixa freqüência. Como o aparelho é usado grudado na orelha, parte dessa radiação é absorvida pela cabeça do usuário e outra parte será responsável pelo contato com a torre de transmissão.

O efeito térmico dessa recepção de radiação na cabeça é, principalmente, o aquecimento da orelha, que percebemos após uma conversa ao celular. Os efeitos biológicos, que se dariam pela interferência que essa radiação pode causar no organismo depois de ser absorvida, ainda são controversos, mas especialistas acreditam que o uso intenso, a longo prazo, possa causar inclusive alguns tipos de tumor.

Limites de exposição

O Idec contatou os principais fabricantes de aparelhos celulares do país para confirmar a sua prática quanto à exposição dos consumidores à radiação eletromagnética.

A Benq, a Motorola e a Nokia informaram que todos os manuais de seus produtos mencionam o nível de radiação a que o consumidor está exposto e que todos estão abaixo do limite de radiação recomendado.

A Samsung informou apenas que “disponibiliza, nos manuais do usuário, informações sobre uso, conservação e manutenção dos aparelhos”, não deixando claro, portanto, se disponibiliza em seus produtos as informações que o consumidor deve ter sobre nível de radiação. A LG se limitou a dizer que não tem um porta-voz para falar sobre o assunto no momento. Gradiente e Sony Ericsson não responderam à solicitação do Instituto.

No Brasil, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estabeleceu regras para essa exposição, baseadas no padrão da ICNIRP, um órgão internacional especializado no assunto. O limite estabelecido para a taxa de absorção específica, conhecia como SAR na sigla em inglês, é de 2W/kg. É uma medida de potência absorvida por unidade de massa de tecido. Para muitos especialistas, no entanto, essas regras são obsoletas, pois só levam em consideração os efeitos térmicos, deixando de lado os riscos biológicos a que o consumidor se expõe.

“Os riscos térmicos só existem se os limites, atualmente em vigor na resolução 303 da Anatel, forem atingidos ou ultrapassados. Esses riscos correspondem a exposições agudas e de curta duração. Essa resolução, entretanto, não considera os efeitos não-térmicos –crônicos e de duração prolongada –, que incluem, entre outros, dores de cabeça freqüentes, distúrbios do sono, comprometimento da memória e de funções cognitivas, cansaço, má-formação fetal, déficit de atenção, autismo, comprometimento do sistema imune, câncer, mal de Parkinson e mal de Alzheimer”, esclarece Francisco de Assis Ferreira Tejo, coordenador do Laboratório de Eletromagnetismo Aplicado da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Princípio da precaução

Até hoje não há provas conclusivas dos efeitos biológicos que a radiação eletromagnética emitida pelos celulares pode ter no corpo humano. Por isso, é importante adotar uma série de cuidados para se precaver. “Se pode existir risco, se exponha o menos possível ou não se exponha”, alerta Silvana Turci.

“Ter cautela é válido. O celular pode oferecer perigo, mas também oferece benefícios ao usuário. O jeito é equilibrar”, orienta Luiz Paulo Kowalski, diretor do departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital A. C. Camargo, referência no tratamento de câncer em São Paulo.

As principais dicas são:

  • use o celular apenas quando for imprescindível, e pelo menor tempo possível;
  • prefira usar o telefone fixo ao celular;
  • alterne as orelhas em que costuma usar o aparelho;
  • use viva-voz ou fones de ouvido sempre que puder;
  • limite ao máximo o uso pelas crianças e adolescentes;
  • antes de comprar, leia o manual do produto e verifique os níveis de SAR, ou seja, preste atenção no nível de radiação que o aparelho emite;
  • evite usar o aparelho em automóveis e enquanto dirige.

    Risco para quem não tem celular

    A radiação eletromagnética também é emitida pelas antenas de transmissão de telefonia móvel. Assim, mesmo quem não usa o celular está sujeito a absorver essa radiação. Nesse caso, as pessoas que moram próximo a estações rádio-base são as mais prejudicadas.

    João Carlos Peres, diretor executivo da Associação Brasileira de Defesa dos Moradores e Usuários Intranqüilos com Equipamentos de Telecomunicação Celular (Abradecel), é enfático: “ou você abaixa a potência dessas antenas – como fizeram em Porto Alegre e na Suíça, por exemplo, onde a potência permitida está cem vezes abaixo da estipulada pela ICNIRP; ou você aumenta o recuo das pessoas, pois quanto mais longe elas ficarem das antenas, mais protegidas estarão”.

    Mais uma vez, o que vale é a precaução. “É claro que a população não terá câncer apenas porque vive com uma antena ao lado. Existem outros fatores, mas esse é um co-fator”, alerta. E, por isso, deve ser levado em consideração.

    Questionamos as principais operadoras de telefonia móvel sobre sua prática na instalação de antenas de transmissão. A Claro informou que cumpre as normas estabelecidas pela Anatel, confeccionando laudos e realizando medições práticas de forma que garanta o cumprimento dos limites máximos de exposição eletromagnética.

    A Telemig, a TIM e a Amazônia Celular disseram que também cumprem a determinação da Anatel e elaboram um relatório de conformidade eletromagnética para cada antena instalada.

    A OI se limitou a dizer ao Idec que, por um procedimento padrão da assessoria de imprensa, não atende solicitações que não sejam feitas por grandes veículos de mídia. E a Vivo não retornou até o fechamento desta edição.

    Segundo a Anatel, em janeiro deste ano existiam 36.373 estações rádio-base instaladas no Brasil e, antes de qualquer antena ser implementada, as empresas são obrigadas a apresentar um projeto à agência mostrando que respeitam as regras para emissão de radiação eletromagnética.

    Infelizmente, por enquanto, o consumidor que desconfia de uma antena ilegal perto de sua residência ou de seu local de trabalho não tem muito o que fazer, além de entrar em contato com a Anatel ou a Abradecel e denunciar.

    Saiba mais:

  • Abradecel: www.abradecel.org.br
  • Anatel: www.anatel.gov.br
  • terça-feira, abril 22, 2008

    Passagem das horas, de Álvaro de Campos

    Trago dentro do meu coração,
    Como num cofre que não se pode fechar de cheio,
    Todos os lugares onde estive,
    Todos os portos a que cheguei,
    Todas as paisagens que vi (...),
    sonhando,
    E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
    (...)

    Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
    Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
    Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
    Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
    E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco (...)

    Sentir tudo de todas as maneiras,
    Viver tudo de todos os lados,
    Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
    Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
    Num só momento difuso, completo e longínquo. (...)

    sexta-feira, março 21, 2008

    Conversa com Laurentino Marques Antique

    Dias atrás recebi e-mail de um conhecido moçambicano, que vi um único dia na Ilha de Moçambique. Ele trabalha com jornalismo lá e por isso trocamos e-mails.

    No e-mail, ele disse que estava muito mal, se recuperando de uma crise de malária. No dia seguinte, me encontrou online e começou a conversa abaixo.

    É interessante o quão diferentes são nossas culturas e o jeito de dizer as coisas, por isso copio a conversa aqui. Eu me divirto nessas conversas. Copio literalmente.

    Laurentino: oi, tas bem Lúcia
    Eu: oi, laurentino. estou bem, e você? como está a recuperação?
    Laurentino: melhor, finalmente tas no bate bapo!
    tas muito ocupada?
    Eu: hehehe, sempre fico com o e-mail ligado. trabalho usando ele, né?
    tô escrevendo um texto agora, sobre uso de celular
    e vc, tá na faculdade?
    Laurentino: Nao, tou a fazer algumas pesquisas na net e lembrei-me de ti
    Eu: pesquisas sobre o quê?
    Laurentino: matemática cadeira de Geometria algumas figuras.
    Já conseguiste um outro namorado ou ainda tas se ocupando com trabalhos cientificos?
    Eu: estou me ocupando dos dois, hehe.
    Laurentino: veja que de certo, eu sempre almejei tudo de bom para ti.
    Eu: ah, obrigada
    e a sua namorada, como está?
    Laurentino: Ela esta bem, e felismente és a primeira pessoa a saber k ta grávida de 2 meses
    Eu: olha só. Parabéns!
    vcs estão felizes?
    Laurentino: agora sim tamos, eu tentei esquecer tudo e viver nova vida, dai levei a ela pra um lugar turistico fora da cidade e transamos muito durante uma semana e fruto disso é...
    Eu: Ah...
    Laurentino: mas ninquem sabe na familia dela e na minha apenas nos os tres o que faço agora? Eu: vc acha que a reação da família dela será ruim? acho que o melhor é sempre falar.
    minha irmã também está grávida. soubemos há 6 meses
    a família fica um pouco perdida, mas acaba aceitando bem - eu acho
    Laurentino: a familia vai gostar muito, o pior é que ainda não arrumei a cerimonia de casamento
    Eu: entendi... e vc já tá planejando o casamento?
    Laurentino: já sim em Julho, e ai queres o meu convite?
    Eu: ah, fico feliz de você me mandar o convite. só não sei se conseguirei voltar já para moçambique.
    vcs costumam fotografar o casamento?
    Laurentino: sim, farei ate um vídeo. se não poderes vir envio para ti.
    Eu: ah, que ótimo! gostaria muito de assistir
    e vcs já conseguiram juntar o dinheiro para se casar?
    Laurentino: é o que tou fazendo agora, querias contribuir? e eu tabém farei no seu. não acha?
    é o que tou fazendo agora. querias contribuir? e eu farei no seu. não acha?
    Eu: claro. gostaria de ajudar na preparação da cerimônia, sim. me passe depois uma lista de coisas que vocês costumam receber e eu vejo qual delas está dentro das minhas possibilidades
    pode me passar por e-mail
    Laurentino: Tá. é assim mesmo, eu também tou preparando um livro tipo romance, tou confiando em si na revisão, pode ser?
    Eu: posso ler, sim. com prazer. mas acho que não posso fazer sozinha revisão, pois nossos jeitos de falar são diferentes, não acha? também precisa de uma revisão de alguém de Moçambique. eu acho
    Laurentino: acho sim, dai seras a 2 pessoa.
    um romance k vai falar da coragem que voces mulheres tem para aolcançar um objectivo. vai ser interessante acho eu!
    Eu: legal! e já começou a escrever?
    Laurentino: já sim ainda tou com um 1/4 da obra. Quero ter nome na literatura moçambicana e monstrar ao mundo que conheço a mulher na sua componente interior.

    sexta-feira, fevereiro 29, 2008

    Cuidado com a pizza

    As pizzas congeladas trazem grandes quantidades de sódio e de gorduras. Nos rótulos, faltam informações sobre formas de armazenamento, SACs e reciclagem das embalagens

    Sexta-feira à noite é hora de comer pizza. O cheiro da massa assada e do queijo derretido dão água na boca até quando a pizza é das mais simples. Mas... e se você soubesse que em apenas duas fatias vai consumir todo o sódio que comeria em 20 pratos – isso mesmo, 20 pratos – de filé de frango, brócolis, arroz, feijão e salada de alface, pepino, cenoura e beterraba? Talvez a vontade não diminua, mas é interessante saber o quanto dois pequenos pedaços nos trazem de calorias e de nutrientes. O Idec analisou o rótulo de 20 pizzas congeladas e encontrou quantidades absurdas de sódio e de gorduras saturadas.<br>
    Em média, duas fatias contêm 1200 miligramas de sódio, metade do que um adulto pode consumir durante o dia todo. Além dos 20 pratos de filé de frango, a quantidade também é a mesma que se obtém comendo 6,5 pratos de bife à milanesa com arroz, feijão e salada de maionese. Ou, ainda, o mesmo que encontramos em 1,5 prato de macarronada a bolonhesa, caprichando no queijo ralado.

    Já se o consumidor comer dois pedaços da pizza de mussarela das marcas Carrefour, CompreBem, Extra, Frescarini ou Wal-Mart, terá ingerido 65% do recomendado para o dia inteiro. E isso só em uma refeição. Essas são as pizzas que declaram maior quantidade de sódio por porção, chegando a 769 mg na fatia da Frescarini.

    As que declaram menor quantidade de sódio por pedaço são as pizzas de marca própria do supermercado Dia%. A de mussarela contém 340 mg e a de calabresa, 337 mg. Só que, mesmo nessas, em apenas dois pedaços o consumo de sódio será o mesmo que em 8,5 pratos de estrogonofe de carne com arroz e batata frita. Ou o mesmo que se obteria depois de comer quatro pratos de filé de peixe frito, com arroz à grega e quatro colheres bem cheias de purê de batata.

    De acordo com Deborah Bastos, agrônoma e professora da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), o sódio conserva o alimento, pois diminui a atividade da água e, assim, impede o crescimento e a proliferação de microorganismos. Também é usado para realçar o sabor dos alimentos e por isso o encontramos em quantidades tão grandes nos produtos industrializados.

    O problema é que a ingestão exagerada do nutriente pode levar à hipertensão arterial, doença que acarreta problemas cardiovasculares e aumenta a retenção de líquidos, contribuindo para a obesidade. E quem está acima do peso, independentemente da idade, tem mais chances de ter problemas ortopédicos, respiratórios e gastrintestinais. É motivo suficiente para os consumidores mais radicais nunca mais colocarem um pedaço de pizza na boca. Mas como se alimentar também é sentir prazer com a comida, a dica não é deixar de comer. É só não exagerar, e equilibrar o consumo de alimentos como pizzas congeladas com o de legumes, verduras e frutas.

    Recheio gorduroso

    Das 20 pizzas analisadas (das marcas Batavo, Dia%, Carrefour, CompreBem, Extra, Frescarini, Pão de Açúcar, Perdigão, Sadia, Sonda e Wal-Mart/Great Value), 13 têm quantidades bem grandes de gorduras saturadas. As campeãs são as de mussarela da Sadia e da Perdigão, respectivamente com 20 g e 11,4 g de gorduras saturadas em apenas duas fatias. Como a recomendação de ingestão diária é de no máximo 22 g, se o consumidor comer duas fatias da pizza de mussarela da Sadia, não poderá ingerir mais nenhum alimento com gorduras no dia, o que seria bem difícil.

    A mesma quantidade de gordura saturada (20 g) é encontrada só em dois dos pratos mais calóricos da culinária brasileira: o virado à paulista (com tutu de feijão, lingüiça, bisteca, banana empanada, ovo frito, torresmo e couve) e a tradicional feijoada (com arroz, feijão, carnes, torresmo, couve e laranja).

    No geral, as pizzas de mussarela contêm mais gorduras que as de calabresa, diferente do que se possa imaginar. Por isso, é importante conferir os rótulos e escolher os sabores também pela quantidade de nutrientes que possuem.

    Já quando analisamos as gorduras trans, as pizzas de marca própria do supermercado Dia% são as piores. Duas fatias – seja de mussarela ou de calabresa – contêm 1,5 g de gorduras trans, grandes responsáveis pelo aumento do colesterol ruim e pela incidência de doenças cardíacas. Não há recomendação diária desse tipo de gordura para um consumo seguro, mas o limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 2 g por dia.

    Em dois pedaços das pizzas do Dia%, o consumidor vai ingerir a mesma quantidade de trans que há em 25 pratos de filé de frango com brócolis, ou ainda, o mesmo que há em 6,5 pratos de lasanha ao sugo feita em casa, com recheio de presunto e queijo, molho de tomate e queijo parmesão ralado.

    Como as gorduras trans também estão presentes em grande parte dos alimentos industrializados (como margarinas, cremes vegetais, biscoitos, sorvetes, salgadinhos, produtos de panificação e alimentos fritos), é difícil que no mesmo dia o consumidor não coma outros tantos gramas dessa gordura. A dica é ficar de olho nas pizzas que têm mais recheio, pois nessas as chances de encontrar altos teores de gorduras é maior, já que o queijo e as carnes são alimentos ricos nessa substância.

    Rótulos ruins

    Infelizmente, um rótulo não é bom apenas por ter fotos que dão água na boca. Algumas informações são importantes para o consumidor ter como optar por uma marca ou sabor, entre elas as formas de conservação e de preparo do produto, seu prazo de validade, a informação nutricional por porção, os ingredientes da massa e do recheio, e os dados do fabricante, junto com um telefone para contato dos consumidores.

    O artigo 31 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) garante que “a oferta e a apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidade, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem (...)”. Assim deveria ser, mas na prática muitos problemas ultrapassam o CDC e continuam nas prateleiras dos supermercados.<br>
    O problema começa com o tamanho das porções indicadas, que varia entre 40 g e 200 g. A (des)informação dificulta a escolha, pois é necessário fazer diversas contas para saber qual é a pizza mais indicada para cada tipo de alimentação.

    Para quem tem restrições alimentares, a situação é ainda pior. Um consumidor hipertenso que decide comer pizza deve ter cuidado para que sua pressão não sofra com a escolha. Para isso, ele procura uma que tenha baixa quantidade de sódio. Como não é especialista no assunto, encontra a pizza de calabresa do Sonda, que informa ter quantidade menor do que cinco gramas do nutriente, e a coloca no carrinho. No entanto, a embalagem apresenta um erro grotesco: o sódio é medido em miligramas, ou seja, ter quantidade inferior a cinco gramas significa ter menos do que 5 mil miligramas de sódio, quantidade maior do que o indicado para ser consumido em dois dias! Nesse caso, se o consumidor sofrer qualquer dano por causa da ingestão do alimento, poderá reclamar seus direitos para a empresa.

    Da mesma forma, a pizza de calabresa da Perdigão não informa a quantidade de sódio, mas coloca a quantidade de cálcio na tabela de informações nutricionais. O consumidor pode se perguntar se a empresa errou o nome do nutriente ou se de fato não informa a quantidade de sódio (o que é obrigatório). Novamente, não estará certo sobre a informação nutricional correta.

    Já as pizzas do Pão de Açúcar informam apenas os ingredientes do recheio. Como o consumidor não vai jogar a massa no lixo para comer só a mussarela, deveria encontrar informações também do que compõe o “disco de pizza”, como é listado.

    As formas de conservação também são pouco esclarecedoras em oito das embalagens, que indicam apenas a temperatura para armazenamento. O Idec considera que uma boa indicação de armazenamento deve trazer não só a temperatura, mas também o local em que o consumidor obtém essa temperatura: se na geladeira, no congelador ou no freezer.

    Os problemas continuam na hora de reclamar de irregularidades ou de pedir esclarecimentos às empresas. As pizzas do Pão de Açúcar não indicam o endereço da empresa e as do Sonda não informam o telefone do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC).

    O Idec também conferiu quais empresas têm se preocupado com a preservação do meio ambiente e a constatação é ruim. Apenas as embalagens das marcas Batavo, CompreBem, Extra e Wal-Mart/Great Value informam que podem ser recicladas.

    Válido até 2009

    Há dez anos, o Idec fez um teste com massas de pizza e, na época, era preocupante a quantidade de conservantes usada para garantir o prazo de validade, que chegava a dois meses. No caso da atual pesquisa com as pizzas congeladas, os prazos de validade variam entre dois e cinco dias (para as pizzas refrigeradas do Pão de Açúcar e do Sonda, respectivamente) e um ano (para as pizzas congeladas do Dia%). É fundamental prestar atenção a essa informação, para não ingerir um alimento estragado.

    Como nos rótulos atuais não encontramos informações sobre conservantes, entramos em contato com todas as empresas, para saber o que havia mudado nesse tempo. As que nos responderam até o fechamento desta edição foram:

    » Compre Bem, Extra, Pão de Açúcar e Sadia, que informaram não utilizar conservantes em suas pizzas. As empresas afirmaram que a conservação nas temperaturas indicadas já garante a preservação dos produtos. De fato, hoje existem técnicas de processamento que permitem conservar o alimento sem adicionar conservantes, mas isso só acontece se a temperatura de conservação for seguida rigorosamente tanto pelos pontos de venda quando pelo consumidor

    » Batavo e Perdigão, que informaram usar o sorbato de potássio como conservante: “devido aos problemas na cadeia de frio (pontos de venda) se faz necessária a aplicação de conservantes como o sorbato de potássio, que tem como função o controle do crescimento microbiano, em concentração permitida pela legislação vigente”

    *Reportagem também publicada na edição de fevereiro da Revista do Idec