Era uma vez uma machamba (plantação). Uma comunidade de macaquinhos se alimentava do que era produzido em suas terras. Em um dia feio de verão, sem aviso, ratos invadiram a plantação. Foi uma peste violenta. Para controlar a praga, os macacos decidiram comprar veneno e jogaram a isca em todo o terreno. Assim, viveriam felizes para sempre.
Em poucos dias todos os ratos morreram, mas algo inesperado ocorreu. Os macacos também estavam doentes. Todos que se alimentavam morriam como as pestes. Preocupados, eles se juntaram novamente para esclarecer os acontecimentos: os que comeram as plantas da machamba, depois de jogado o veneno contra a praga, morreram envenenados.
Agora, restavam apenas quatro macacos na comunidade. Um deles decidiu que não comeria mais, para não se envenenar. Ele colocou, para sempre, suas mãos tampando a boca. O segundo decidiu que não queria ver mais mortes em sua comunidade e colocou as mãos nos olhos, para nunca enxergar nada. O terceiro resolveu tampar os ouvidos, pois assim não ouviria mais histórias tristes. O último, nunca mais brincaria. As mortes dos outros macacos lhe tiraram a alegria de viver.
Lilo e os macaquinhos
Caminho em direção à feira de artesanato de Nampula, cidade do norte de Moçambique. As primeiras barracas vendem panos para limpar o chão. À frente, vendedores amontoam pares de calçados usados, colocados uns em cima dos outros, com pares afastados no meio de outros tantos.
Entro no meio das barracas. A feira abrange quarteirões inteiros, se enredando pelo meio de um campo, pelas calçadas e pela rua. Em barracas mais afastadas há peças em madeira, em palha e em marfim. Em Moçambique, o importante é saber pechinchar. No geral, a mercadoria vale – ou é vendida – pela metade do preço ofertado inicialmente. Há também roupas, bijuterias, pequenos gorros tricotados a mão, tapetes e vassouras de palha.
Enquanto me perco nos diversos corredores, um rapazinho me segue. Ele segura quatro macaquinhos de madeira nas mãos e insiste para que eu compre sua mercadoria. Repito que não quero, que não tenho dinheiro, que já comprei o que queria. Ele me pede, então, que eu apenas escute a história da comunidade desses macaquinhos. Lilo me convenceu e comprei os quatro. Por todo o país comprovei que sua história é verdadeira.
Problemas nacionais
Moçambique é assolado por pragas e calamidades naturais mais de uma vez por ano. Em 1994 e 1996, gafanhotos vermelhos invadiram as províncias de Manica, Tete, Sofala, Zambézia e Niassa. As culturas foram destruídas e milhões de pessoas tiveram a fome acentuada nesses períodos. Pragas causadas por ratos também são um problema de saúde pública no país.
As cheias são praticamente anuais. As terras cultivadas inundam, há danos nas estradas, sistemas de água e saneamento são destruídos. Em fevereiro de 2000, ciclones se somaram às cheias, nas cidades de Maputo e Matola. Mais de 650 mil pessoas foram afetadas, milhares de hectares cultivados foram perdidos e grande quantidade de gado morreu afogada.
Neste ano, as calamidades naturais também não ficaram longe dos moçambicanos. Houve ciclones no sul, centro e norte do país. Além de cheias no centro. As pessoas perderam casas, machambas e árvores (que simbolizam os seus antepassados). Perderam parentes e amigos. E as cheias vão continuar, as ventanias também, trazendo mais calamidades no futuro. “Mas os moçambicanos devem ter força de superar as adversidades, dado que venceram inimigos mais fortes no passado. O povo já mostrou que é heróico, corajoso e sábio, características indispensáveis para ultrapassar a dor que todos sentimos neste momento”, declara Armando Guebuza, presidente do país e da Frelimo (partido no poder desde a independência).
Infelizmente, apenas palavras de esperança não vão resolver os problemas dos próximos anos. A construção de barragens, por exemplo, é um sério projeto de infra-estrutura que devia ser pensado com urgência. Assim como todos os outros projetos de infra-estrutura em andamento há anos, sem sair do papel, comuns em países como os nossos.
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