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Sentou-se com a neta para almoçar. Olharam o cardápio.
– Eu quero de camarão, disse a menininha ao garçom.
– E eu quero duas bolas de bacalhau, por favor – pediu a velha.
O restaurante estava lotado. Com o calor, mais pessoas passavam a apreciar aquele tipo de culinária já consolidado em praticamente todo o mundo.
– Sabe, querida, quando a vovó tinha a sua idade, ninguém comia sorvete no almoço. A bisa não deixava não. Eu lembro até hoje como mentia pra bisa dizendo que tinha almoçado arroz e feijão quando tinha, na verdade, tomado sorvete de chocolate. Ai, outras épocas. No tempo da vovó sorvete só era doce, sabia? Não dá nem pra imaginar, né?
A novidade já era antiga demais para que a menininha se surpreendesse com o que a avó acabara de contar. E Lúcia sabia disso. Não podia, no entanto, esquecer do dia em que viu a placa na sorveteria ao lado de sua casa anunciando que agora também podiam comer sorvetes salgados. Fora no ano de 2005. No verão. E naquela época a consistência ainda era bem diferente, mais cremoso, mais macio. E o preço também mudara bastante: só para os ricos, dizia sua mãe.
Não se cansava de lembrar todas as vezes em que amigos lhe perguntavam como conseguia comer sorvete de chocolate no lugar do almoço. Por que nunca pensara em responder “porque ainda não inventaram sorvete salgado, com gosto de almoço”?
Sorriu discretamente, com a idéia tão tardia. Será que seus antigos amigos agora também comiam sorvete de almoço?
– O de bacalhau – disse o garçom.
– Para mim, por favor – olhou Lúcia.
Almoçaram sem pressa e o tempo passou em silêncio. Pediram arroz doce de sobremesa.
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