- Segredo, juro.
- Jura mesmo?
- Ai, ai, ai. Já não prometi? É segredo. Pode ficar tranqüila, vai. Fala!
A experiência era interessante. Ninguém saberia quem era o dono daquelas histórias de paixão, de medo, de aventura. Clara se sentia assim mais calma, como limpa de uma vida que escondera por tanto tempo. Tantos anos pensando a quem revelar aquelas ações tão repugnadas pela sociedade – pelo menos acreditava que a sociedade repugnaria tudo aquilo – e em algumas horas se sentia tão mais bonita, tão pronta para ela mesma.
Estava com uma saia preta rodada e um cachecol que naquele dia lhe servia como xale. Cerca de cinco centímetros mais alta do que era, por conta do salto. Seu rosto estava magnífico, resplandecente, e seus olhos brilhavam com um toque suave da água salgada que lhe borrava o lápis. Estava linda, como poucas vezes em toda a sua vida. E sabia que agora tinha para quem mostrar toda a sua beleza.
Pensou mais uma vez no que ia dizer, para não faltar nenhum detalhe na hora em que decidisse revelar tudo. Retocou a maquiagem e percebeu que chegara a hora. Colocou o espelho um pouco curvado no chão, frio, como estava frio. Sentou-se e reclinou um pouco a cabeça, porque assim ficava mais bonita. Sentiu uma gota vinda de seus olhos e que caíra sobre a saia. Chorou. Era a primeira vez que conseguia revelar a si mesma o que teimava tanto em não acreditar. Não podia mais... Chega! É segredo!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário